O rio Madeira enfrenta uma drástica estiagem em Porto Velho. Bancos de areia se estendem por quilômetros e transformam o rio em um corredor sem horizonte visível devido à fumaça das queimadas em Rondônia.
No último dia 3, o Madeira alcançou um nível mínimo histórico de 1,02 metros, o menor já registrado desde o início das medições em 1967. Este recorde supera o nível mais baixo anterior de 1,10 metros, registrado em 2023 durante uma seca extrema.
Seca extrema
A atual seca é mais severa e prolongada do que a do ano passado, atingindo marcas históricas no início de setembro. A falta de chuvas e as queimadas incontroláveis em Rondônia indicam que a situação pode piorar, com o rio ainda podendo baixar mais.
A seca intensa afeta gravemente as comunidades ribeirinhas, que enfrentam a formação de bancos de areia de até 1 km de largura. Essas condições isolam comunidades inteiras, que dependem da agricultura de banana, mandioca, melancia e milho.
A rotina dessas comunidades, que normalmente inclui a travessia diária do rio para transportar produtos até Porto Velho, foi interrompida. Hoje, os moradores enfrentam dificuldades para transportar os produtos, subir barrancos e acessar água potável, já que poços locais estão secos.
Crise em Itacuã
A Folha visitou a comunidade de Itacuã, a uma hora de Porto Velho, onde os moradores agora enfrentam dificuldades extremas. Parte dos residentes migrou para a margem oposta do rio devido à seca, enquanto os que permanecem tentam manter a produção agrícola.
A exploração ilegal de ouro no Madeira, através de dragas, também contribui para a crise. Recentemente, uma operação do Ibama e da Polícia Federal destruiu 459 dragas em Humaitá (AM), após confrontos com garimpeiros.
Muitos ex-garimpeiros, como Blendo Trindade e seu irmão Ricardo, agora se dedicam à agricultura, mas enfrentam dificuldades devido à seca e à falta de transporte adequado.
A pesca, outrora uma fonte vital de sustento, foi prejudicada pela construção da hidrelétrica Santo Antônio, que atualmente enfrenta problemas operacionais devido à baixa do rio.
Os agricultores locais relatam que a qualidade da água e as condições para a ictiofauna não foram afetadas pelas obras, mas as consequências da seca e do garimpo são evidentes.
Raimundo do Nascimento, 67 anos, que ainda permanece em Itacuã para cuidar das plantações, nota a interferência do garimpo na qualidade do rio.
A comunidade enfrenta ainda dificuldades no acesso à água potável, que é transportada de outra margem, enquanto a Defesa Civil de Porto Velho promete fornecer água mineral e perfurar novos poços para ajudar a amenizar a crise. A distribuição de água potável deve continuar até novembro, complementada por doações do setor privado.
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