A professora, psicóloga e comunicadora indígena Glycya Makuxi, de 30 anos, acaba de realizar um feito importante: está entre os 20 selecionados para o Laboratório de Narrativas Negras e Indígenas para Audiovisual (LANANI), promovido pela Globo em parceria com a Festa Literária das Periferias (Flup).
Natural da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Normandia, no norte de Roraima, Glycya representa a luta histórica de sua comunidade pela demarcação de terras, oficializada em 2005.
“Senti que as vozes amazônidas estão chegando cada vez mais longe no audiovisual, e fico feliz em participar disso”, declarou Glycya.
Ela se destacou entre mais de 600 inscritos para participar da 8ª edição do projeto “Vozes amazônidas cada vez mais longe” e agora pretende desenvolver um roteiro audiovisual inspirado na vivência de seu povo, narrado sob a perspectiva indígena.
Roteiro e narrativas ancestrais
A ideia do longa-metragem que Glycya pretende criar ainda não tem título definido, mas ela planeja focar em uma narrativa que destaque a resistência indígena, sem a perspectiva do “salvador branco”.
“Quero contar a história do nosso ponto de vista, sem personagens com a síndrome do ‘branco salvador’ e mostrar que nós temos voz e podemos nos defender”, afirma Glycya, que está na fase inicial do desenvolvimento do argumento.
Ao final, ela espera ver seu projeto transformado em uma produção para a televisão.
O LANANI começou com um encontro presencial nos Estúdios Globo, no Rio de Janeiro, entre os dias 7 e 11 de outubro.
Durante o laboratório, os participantes terão 10 aulas online sobre roteiros e produção audiovisual, com mentorias e atividades práticas. As aulas seguem até 1º de dezembro e são projetadas para abrir portas para roteiristas negros e indígenas.
História familiar e herança de resistência
A protagonista da obra de Glycya será uma professora indígena, figura que reflete sua própria experiência e a de sua mãe, uma líder indígena na educação.
Glycya é filha do professor Telmo Ribeiro, que ganhou visibilidade nacional em 2020 ao atravessar 30 km e um igarapé para entregar atividades impressas a alunos indígenas em áreas remotas de Roraima.
Durante o período de demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, Glycya e sua família enfrentaram ameaças, uma lembrança que fortalece sua dedicação em transmitir as histórias e lutas de seu povo através do audiovisual.
Fonte: G1.