A contaminação por mercúrio tem afetado profundamente a Terra Yanomami, com sete rios e três afluentes altamente poluídos pelo metal utilizado em garimpos ilegais. Segundo um estudo da WWF-Brasil divulgado recentemente, peixes desses rios apresentam níveis de mercúrio superiores aos limites seguros para o consumo humano, o que representa uma séria ameaça para a saúde das comunidades indígenas locais.

O levantamento da WWF-Brasil aponta que os rios Parima, Uraricaá, Amajari, Apiaú, Uraricoera, Mucajaí e Couto de Magalhães estão com níveis críticos de mercúrio. Além disso, os afluentes Auaris, Trairão e Ereu, todos na bacia do rio Uraricoera, também foram identificados com alto índice de contaminação.

Esses rios estão próximos a áreas de garimpo ilegal, onde o mercúrio é amplamente usado para separar o ouro de outros materiais. O rio Uraricoera, por exemplo, é uma das principais vias de entrada para garimpeiros na Terra Yanomami, e o rio Mucajaí destaca-se como um dos mais afetados.

Impactos do mercúrio

O uso do mercúrio pelos garimpeiros representa uma ameaça significativa para a saúde das populações locais. Esse metal tóxico, após ser descartado nos rios, evapora e se dispersa pelo ar, contaminando o ambiente. Com o tempo, o mercúrio entra na cadeia alimentar através da bioacumulação em peixes, uma das principais fontes de proteína para os indígenas Yanomami.

O estudo mostrou que os rios Uraricoera e Mucajaí têm altas concentrações de mercúrio em peixes, com níveis que ultrapassam o limite de segurança de 0,5 µg/g estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Peixes piscívoros, que se alimentam de outros peixes, apresentam concentrações de mercúrio de até 1,79 µg/g, enquanto espécies não-piscívoras exibem níveis de 0,31 µg/g.

O ciclo de contaminação do mercúrio começa com o processo de amalgamação, uma técnica onde o metal é usado para “limpar” o ouro de impurezas. Durante esse processo, o mercúrio evapora e se acumula no solo e nas árvores ao redor. Com o desmatamento, ele é liberado nos rios, onde se transforma em metilmercúrio, uma forma que se acumula na cadeia alimentar e afeta a saúde dos consumidores, como os peixes “canibais”, principais presas das comunidades ribeirinhas.

Crise Humanitária e Ambiental na Terra Yanomami

A Terra Yanomami, localizada nos estados de Roraima e Amazonas, é o maior território indígena do Brasil, abrigando cerca de 31 mil indígenas distribuídos em 370 comunidades. A região enfrenta uma crise sanitária e humanitária devido ao garimpo ilegal, que não só contamina os recursos hídricos, mas também ameaça o modo de vida dos povos originários.

Desde 2022, estudos vêm alertando sobre a gravidade da contaminação. Um laudo da Polícia Federal, emitido no mesmo ano, constatou níveis de mercúrio até 8600% acima do permitido em rios como o Couto de Magalhães, Catrimani, Parima e Uraricoera.

Em 2024, um levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA) revelou que, em nove comunidades yanomamis, 94% dos indígenas apresentavam altos níveis de contaminação pelo metal.

Recomendações do para reduzir a contaminação por mercúrio

A WWF-Brasil elaborou uma série de recomendações para ajudar a mitigar a contaminação por mercúrio na Terra Yanomami. Entre elas estão:

  • Implementação de um programa de monitoramento abrangente, que leve em conta as condições específicas das sub-regiões afetadas. A colaboração com comunidades locais é essencial para resultados eficazes e sustentáveis.
  • Reavaliação da legislação brasileira para definir parâmetros de segurança com base em análises de risco que considerem o consumo elevado de peixe na região.
  • Estabelecimento de um conselho alimentar que oriente as comunidades sobre o consumo seguro de peixes, considerando as diferentes espécies e suas frequências de ingestão.

Garimpo Ilegal e Crise Yanomami: Medidas de Enfrentamento

A Terra Yanomami, com seus 9,6 milhões de hectares, enfrenta há décadas o problema do garimpo ilegal, que se intensificou nos últimos anos, causando conflitos armados e degradação ambiental. Em resposta, o governo federal enviou profissionais de saúde e segurança para conter a crise, além de distribuir cestas básicas e materiais de apoio às comunidades.

No entanto, o garimpo ilegal ainda persiste, com cerca de sete mil garimpeiros em atividade, de acordo com o Ministério dos Povos Indígenas (MPI), representando uma redução de 65% em relação ao início das operações do governo.

Com informações do Portal g1.