Um novo estudo publicado na revista científica JAMA Internal Medicine nesta segunda-feira (8), mostra que, entre pacientes com sobrepeso e obesidade, a tirzepatida, princípio ativo do medicamento Mounjaro, é mais efetiva na perda de peso do que a semaglutida, ativo do Ozempic e do Wegovy. Segundo os resultados da pesquisa, o uso da tirzepatida levou tanto a porcentagens maiores de perda de peso corporal quanto fez com que mais pessoas chegassem a perdas significativas.
Este é o primeiro estudo que compara diretamente a efetividade das duas substâncias. Até então, os dados sobre o potencial dos medicamentos eram os dos ensaios clínicos de fase 3, feitos separadamente para cada medicação.
Segundo Marcio Mancini, diretor do Departamento de Tratamento Farmacológico da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) e do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), o resultado da nova pesquisa não surpreende. Isso porque a tirzepatida mostrou resultados superiores à semaglutida já nos ensaios clínicos de fase 3, cujos resultados são conhecidos.
“A novidade foi esse levantamento populacional de pessoas que receberam prescrição de um remédio ou outro no território americano. É um estudo que a gente chama de vida real, não é um estudo experimental”, comenta o endocrinologista.
No Brasil, o Mounjaro (tirzepatida) recebeu aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em setembro de 2023 para uso em tratamento de diabetes tipo 2, mas ainda não começou a ser comercializado. Em outros países, como nos Estados Unidos, o medicamento também foi aprovado para o tratamento de obesidade e sobrepeso.
Já a semaglutida tem aprovação da Anvisa para ambos os casos, sendo o Ozempic a versão aprovada para tratamento de diabetes tipo 2 e o Wegovy para obesidade e sobrepeso. No entanto, somente o Ozempic está disponível nas farmácias brasileiras e a expectativa é que o Wegovy chegue ao mercado em agosto. Enquanto isso, o Ozempic vem sendo prescrito de forma off label (com indicação diferente da prevista em bula) por médicos para o tratamento da obesidade.
O que diz o estudo
A pesquisa foi realizada a partir de registros clínicos de pessoas com sobrepeso ou obesidade dos Estados Unidos que iniciaram tratamento com tirzepatida ou semaglutida. No total, os pesquisadores acompanharam a evolução do quadro de cerca de 41 mil pacientes.
Após um ano de uso dos medicamentos, a perda de peso média dos participantes que usaram tirzepatida foi de 15,3%, enquanto aqueles que utilizaram a semaglutida perderam cerca de 8,3% do peso corporal. Os benefícios foram observados tanto entre pessoas que tinham diabetes tipo 2 quanto entre as que não tinham.
Além disso, os resultados mostram que, ao final do estudo:
– 81,8% dos participantes que usavam tirzepatida e 66,5% dos que usavam semaglutida atingiram 5% ou mais de perda de peso;
– 62,1% dos participantes que usavam tirzepatida e 37,1% dos que usavam semaglutida atingiram 10% ou mais de perda de peso;
– 42,3% dos participantes que usavam tirzepatida e 18,1% dos que usavam semaglutida atingiram 15% ou mais de perda de peso.
“É interessante que, quanto maior a porcentagem de perda de peso, mais se acentua a diferença entre os dois”, comenta Mancini.
Para a Novo Nordisk, fabricante do Ozempic e do Wegovy, “agora entendemos melhor a fisiopatologia da doença e podemos investir em terapias mais específicas, seguras e cada vez mais potentes”. Segundo a farmacêutica, o aquecimento de estudos reforça a importância de olhar para a obesidade de forma séria e continuar investindo em medicamentos inovadores. Por isso, afirmou que segue “comprometida em preencher a lacuna de eficácia entre tratamentos clínicos disponíveis e a cirurgia bariátrica”.
Tirzepatida x semaglutida
As duas moléculas fazem parte do grupo de substâncias cuja ação se assemelha a de hormônios produzidos no intestino. A semaglutida, do Ozempic e do Wegovy, age da mesma forma que o GLP-1, substância que auxilia no controle do açúcar no sangue, da liberação de insulina e das sensações de saciedade e fome.
Já a tirzepatida é uma molécula análoga tanto do GLP-1 quanto do GIP, outro hormônio que contribui para esse controle. Como age em dois receptores diferentes, sua ação é potencializada. Ainda assim, Mancini ressalta que ambas as moléculas são eficientes e possuem suas limitações.
“São medicações muito seguras. Eu acho que a gente tá falando só de números que são um pouquinho maiores para a tirzepatida”, afirma.
Para o endocrinologista, a realidade de cada paciente é o que vai ditar o que será prescrito por um médico. Por exemplo, se uma pessoa precisa perder mais peso, ela teria um benefício maior com a tirzepatida.
“Mas tem que ver o custo”, relembra, afirmando que este é o maior limitador do uso desses medicamentos atualmente, já que o preço do Ozempic, por exemplo, chega a R$ 1 mil por caneta. O Wegovy e Mounjaro devem ter preços ainda mais altos por terem doses mais altas do princípio ativo.