As fábricas do Polo Industrial de Manaus iniciam a terceira semana de outubro ameaçadas de paralisação por falta de insumos nas linhas de montagem.
Nos últimos dias, navios de cargas não estão conseguindo chegar ao Amazonas por causa da seca severa que atinge o estado.
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Operadores logísticos alertaram clientes ao longo da última semana de que não há previsão de quando os grandes navios voltarão a entrar em Manaus.
As condições no rio Amazonas e seus afluentes pioraram nos últimos dias, provocando atrasos na entrega de materiais, assim como um acúmulo de produtos acabados nos estoques das fábricas, que concentram a produção nacional de eletrodomésticos, aparelhos eletrônicos e motocicletas.
Até o momento, a situação foi administrada com rearranjos de produção que vêm evitando a paralisação completa das linhas. Mas o estresse logístico se aproxima do limite, sem a normalização da navegabilidade no curto prazo.
Segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros) e o Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas, empresas instaladas no PIM convocaram reuniões para discutir a adoção de férias coletivas nos próximos dias.
Jorge Nascimento, presidente da Eletros, explica que as fábricas estão com dificuldades para receber insumos e também precisam equilibrar os estoques, que estão aumentando em seus pátios porque as mercadorias não estão sendo despachadas regularmente.
Valdemir de Souza Santana, presidente do sindicato dos metalúrgicos, alerta sobre risco de falta de peças na produção nas próximas semanas. “Algumas empresas só vão ter matérias-primas daqui a 15 dias”, relata.
Navios x nível da água
As grandes embarcações não conseguem mais acessar o porto de Manaus devido ao nível de água. Os navios de grande calado não têm, no momento, profundidade mínima necessária para a passagem com segurança dos navios de grande calado.
As balsas, dependendo do peso carregado, conseguem passar por trechos com profundidade inferior a 2 metros – os navios necessitam de pelo menos 8 metros. O problema é que as balsas transportam apenas 10% da carga de um navio e não conseguem desenvolver velocidade, em razão das restrições atuais de navegabilidade, o que eleva o tempo do percurso.
Uma alternativa adotada é o transporte de cargas por balsas entre Manaus e o porto Vila do Conde, no município de Barcarena, no Pará, onde os navios vêm transferindo a carga.
As recentes soluções alternativas também resultam em custo maior de transporte, dadas as despesas adicionais com a armazenagem dos materiais por mais tempo nos portos e as transferências imprevistas de contêineres.
De acordo com Augusto César Rocha, coordenador da comissão de logística do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), “os contratempos elevaram entre 25% e 50%, a depender do contrato, o custo de frete na região”.
Black Friday
Apesar dos problemas provocados pela situação no Norte, por ora, está descartado na indústria o risco de faltarem produtos nas lojas durante a Black Friday, que acontecerá na última sexta-feira de novembro. Mas o rio precisa voltar a subir para assegurar a normalidade das entregas do período de Natal, que acontece a partir do fim deste mês.
Como a estiagem é um fenômeno sazonal no Norte do País, a indústria antecipa a produção e as entregas nos últimos meses para evitar desabastecimento. Mesmo assim, a seca de 2023, agravada pelo El Niño, está superando as expectativas e pode ser a maior da história dentro de alguns dias, atingindo uma área ainda maior e se prolongando até o fim do primeiro semestre de 2024.
Comitê de crise
A Cieam informou que está marcada uma reunião para a próxima sexta-feira (20) com a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). A ideia é criar um comitê de crise. Representantes do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) devem participar. É do órgão a responsabilidade de executar a dragagem, a escavação do fundo dos rios.
O Cieam afirmou que um levantamento interno identificou que, até o momento, o impacto da estiagem na produção foi de apenas 4% das indústrias da região. Porém, a entidade pondera que os rios podem continuar perdendo nível e a situação piorar até o fim do mês que vem caso os trabalhos de dragagem não iniciem logo.
“A preocupação é como a situação vai estar em 30 de novembro. Se garantir 8 metros [profundidade mínima para a passagem dos navios], a crise passa”, disse Augusto Rocha.
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