O que parecia ser o início de noite comum em uma sexta-feira em Manaus se tornou um dos capítulos mais tristes do trânsito da capital do Amazonas.

No dia 28 de março de 2014, por volta de 19h40, na área do viaduto Ayrton Senna, um caminhão modelo caçamba atravessou o meio-fio sentido Centro e bateu de frente com um micro-ônibus que seguia na Avenida Djalma Batista no sentido bairro. O coletivo fazia a linha 825 (Redenção-Bairro da Paz).

O acidente também repercutiu na imprensa internacional. Aquela altura, Manaus era sede da Copa 2014 e estava a pouco mais de dois meses do início da competição.

A tragédia teve um saldo de 16 mortos. Entre as vítimas, homens, mulheres, criança, grávida e bebê. Esse último também não resistiu após parto de emergência.

Cocaína, álcool e velocidade

O Instituto Médico Legal do Amazonas (IML-AM) emitiu laudo em abril de 2014 apontando que o motorista do caminhão consumiu bebida alcoólica e cocaína nas últimas 12 horas antes do acidente. Ele também morreu na colisão.

O caminhão envolvido prestava serviço à Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminf).

Na época, a polícia informou que a punição para o motorista poderia ser extinta pela justiça, pelo fato de o causador do acidente ter ido a óbito. Em termos de responsabilidade civil, as famílias das vítimas poderiam recorrer à possível responsabilidade civil da empresa do caminhão.

Dados do laudo oficial do Instituto de Perícia da Polícia Civil do Amazonas, divulgados no dia 1º de abril de 2014, apontaram que a alta velocidade do caminhão foi a causa determinante do acidente. 

O documento diz que o condutor desenvolveu velocidade acima do limite estabelecido pela legislação do Conselho Nacional de Trânsito (Contran).

Lista das vítimas

Adriane da Silva Fernandes – 20 anos, natural de Manaus, solteira e garçonete;

Carlos Alberto da Silva Silveira – 50 anos, natural de Manaus, vendedor ambulante e solteiro;

Clarice Gomes Pires – 58 anos, natural de Monte Alegre (PA), aposentada e casada com João Duarte Pires, outra vítima do acidente;

Domingos Messias de Souza – 60 anos, marceneiro, natural de Manaus. O idoso chegou a ser encaminhado a um hospital da capital, mas teve traumatismo cranioencefálico gravíssimo e morreu na manhã seguinte ao acidente, no sábado (29);

Gabriela Teles Messias – 26 anos, natural de Cruzeiro do Sul no Acre, promotora de vendas e solteira. A jovem estava grávida, e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) fez um parto de emergência, mas o bebê não resistiu. Gabriela foi velada em Manaus e o corpo seguiu para o Acre;

João Jorge Duarte Pires – 56 anos, natural de Manaus, aposentado e marido da vítima Clarice Gomes Pires;

Lincoln Oliveira de Souza, 21 anos, natural de Manaus, solteiro, auxiliar administrativo;

Luiz Miguel Guedes – de um ano e seis meses, natural de Manaus, filho de Quezia Guedes de Souza.

Ozaias Costa de Almeida – 36 anos, natural de Santarém (PA), solteiro, motorista da caçamba que causou o acidente;

Quezia Guedes de Souza – 24 anos, natural de Manaus, dona de casa, solteira. Ela estava no micro-ônibus com o filho de um ano e seis meses, que também morreu no acidente;

Ricardo Oliveira Santos – entre 30 a 35 anos.

Robert da Cunha Moraes – 26 anos, natural de Manaus, solteiro, motorista do micro-ônibus envolvido no acidente;

Rosangela Cardoso Costa – 39 anos, natural de Manaus, solteira, autônoma trabalhava como vendedora ambulante;

Sebastião Alves de Araújo – 50 anos, natural de São Bento na Paraíba, autônomo e solteiro;

Tânia Maria da Rocha – 50 anos, natural do Rio de Janeiro, administradora e divorciada. A poucos minutos do acidente, chegou a ligar para uma irmã de dentro do ônibus informando que estava a caminho de casa;

Memorial e complexo viário

No dia 28 de março de 2018, a Prefeitura de Manaus inaugurou um memorial com fotos e nomes das 16 vítimas do acidente.

A homenagem está posicionada logo abaixo do viaduto Ayrton Senna, no mesmo local em que ocorreu a tragédia, e possui frase que chama atenção para cuidados no trânsito e homenagem às vítimas.

“Jamais os esqueceremos. A vida não tem preço. Por ela todos devem vigiar, cuidar, prevenir. Essas vidas ceifadas no acidente de 28/3/2014 jamais serão esquecidas”, diz o memorial.

No local, todos os anos são realizados cultos ecumênicos na noite do dia 28 de março.

Mais a frente, a Prefeitura de Manaus nomeou o complexo viário que liga a estrada do aeroporto internacional Eduardo Gomes à avenida Torquato Tapajós com o nome 28 de março. A proposta é uma homenagem às vítimas e também uma forma de chamar atenção sobre a necessidade de maior responsabilidade no trânsito.

Memorial com nomes das vítimas de acidente em Manaus - Foto: Divulgação/Semcom
Memorial com nomes das vítimas de acidente em Manaus – Foto: Divulgação/Semcom