As forças armadas da Rússia fizeram nesta segunda-feira (10), o mais amplo ataque a cidades da Ucrãnia em mais de três meses.

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A ação é uma retaliação do Kremlin à explosão – atribuída a um caminhão-bomba, mas ainda mal explicada – ocorrida no sábado (8) na gigantesca obra que Putin inaugurou em 2018 como uma das principais de seu governo de mais de duas décadas.

De acordo com o exército ucraniano, pelo menos 75 mísseis atingiram alvos em centros urbanos como Kiev, Lviv, Ternopil e Jitomir, no oeste do país; Dnipro e Krementchuk, na região central, e Mikolaiv e Zaporíjia, no sul.

A capital registrou ao menos quatro explosões, no primeiro ataque desde o dia 26 de junho – ao menos 11 pessoas morreram, e 64 ficaram feridas.

Após confirmar em uma reunião do Conselho de Segurança da Rússia a natureza do ataque desta manhã de segunda, Putin prometeu novas reações.

“Se continuarem as tentativas de realizar ataques terroristas em nosso território, as respostas da Rússia serão duras e correspondentes ao nível de ameaça criado”, afirmou.

O presidente russo classificou o episódio, que destruiu uma das pistas da ponte, de “ataque terrorista contra infraestrutura civil crítica”.

Ele afirmou ter atingido centros de comando militar e o sistema energético ucraniano, mas em Kiev um míssil caiu nas proximidades de uma universidade, matando motoristas em seus carros.

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Repercussão

No Twitter, o chanceler ucraniano Dmitro Kuleba afirmou que “Putin é um terrorista que fala por meio de mísseis”.

Uma das explosões na capital foi captada durante uma transmissão ao vivo da rede britânica BBC, com o repórter no local buscando abrigo logo em seguida. O metrô da cidade virou o abrigo preferencial na hora do rush matinal (madrugada no Brasil).

Líderes do Ocidente condenaram os ataques horas depois. O presidente da França, Emmanuel Macron, reafirmou seu apoio, inclusive militar, a Kiev, enquanto os ministros das Relações Exteriores do Reino Unido e da Itália descreveram o episódio como “inaceitável” e “vil”, respectivamente, no Twitter.

Na mesma plataforma, o presidente Volodimir Zelenski afirmou que o primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, havia concordado com uma reunião urgente do G7 para discutir o caso. Já a Otan (aliança militar ocidental) condenou o episódio como “horrendo”, e a China, maior aliada da Rússia, pediu para que ambos os lados trabalhem para conter o agravamento da crise”.

“A vida estava praticamente normal, mas agora parece que voltamos no tempo”, disse por aplicativo de mensagem Oleh Makienko, jornalista independente que trabalha na capital, que foi pego de surpresa pelos ataques na rua, correndo para se esconder em uma estação subterrânea.

Bombardeios

Parte dos mísseis foi lançada de bombardeiros estratégicos voando no mar Cáspio.

A retaliação é uma reação não só à humilhação na ponte perto de Kertch, na Crimeia, mas também à série de derrotas em campo nas últimas semanas: perdeu territórios ocupados em Kharkiv e viu tropas ucranianas romperem suas defesas em Kherson (sul) e Donetsk (leste).

Essas duas regiões, assim como Lugansk (leste) e Zaporíjia (sul), foram anexadas na semana retrasada por decreto de Putin, apesar de suas forças não as controlarem totalmente. Diferentemente do que ocorreu na Crimeia em 2014, quando havia um senso de fato consumado no Ocidente da absorção sem conflito, agora tudo indica uma escalada na guerra.

Putin ficou sob pressão da linha dura de seu entorno. Além de decretar a anexação e uma mobilização impopular de 300 mil reservistas, o russo agora elevou a intensidade de seus ataques com efeito psicológico. No mesmo sábado em que a ponte foi atacada, o Kremlin trocou o comandante geral das operações no país vizinho.

Parte da linha dura tem advogado publicamente o uso de armas nucleares táticas, de potência limitada, contra os ucranianos. Tal cenário, disse o presidente americano, Joe Biden, poderia levar a “um armagedom”.

Pelas imagens disponíveis, foram empregados pela primeira vez em meses diversos mísseis de cruzeiro Kalibr, que aparentemente estão sendo poupados pelo Kremlin após uso intensivo no início da guerra.

São armas caras e sofisticadas, e segundo observadores haveria dificuldade em repô-las também pela escassez de chips ocidentais utilizados nelas. Em compensação, Moscou tem feito ataques com mísseis menos precisos e também com drones suicidas que tem comprado do Irã.