O ex-presidente do Chile Sebastián Piñera morreu aos 74 anos, nesta terça-feira (6), vítima de um acidente de helicóptero na região central do país. 

O político foi presidente por dois mandatos: entre 2010 e 2014 e, posteriormente, entre 2018 e 2022. Seu governo foi marcado por eventos marcantes na história recente do Chile, incluindo uma das maiores ondas de protestos do país em 2019.

Direita e protestos

Piñera, conhecido por suas ideias de direita, interrompeu um ciclo de presidentes da esquerda que governaram o país após o fim da ditadura de Augusto Pinochet, em 1988. 

No entanto, sua gestão enfrentou grandes desafios, como os protestos em massa que eclodiram em 2019, durante seu segundo mandato. 

Milhões de chilenos tomaram as ruas em várias cidades do país para expressar insatisfação com o aumento do custo de vida.

Em resposta aos protestos, Piñera decretou estado de emergência e implementou medidas para acalmar a situação, incluindo a redução do valor do transporte público. 

Entretanto, seu governo foi criticado por causa da reação truculenta aos manifestantes, resultando em denúncias de violações de direitos humanos.

Impeachment

No último ano de seu mandato, Piñera enfrentou um processo de impeachment, motivado por revelações do Pandora Papers. 

Ele foi acusado de supostas irregularidades relacionadas à venda de uma empresa de mineração durante seu primeiro mandato presidencial, em 2010. O processo não teve êxito no Senado, após passar pela Câmara dos Deputados.

Covid-19

Piñera também foi presidente durante a pandemia de Covid-19, decretando estado de exceção para combater o vírus. 

Durante o isolamento social, as questões sociais que motivaram os protestos de 2019 ressurgiram, aumentando o risco de nova convulsão social.

O acidente

O acidente fatal ocorreu quando Piñera estava pilotando o helicóptero, que levava outras três pessoas, de volta de uma visita a um amigo. 

A aeronave caiu em um lago na cidade de Lago Ranco. Três pessoas foram resgatadas com vida pelas equipes de emergência, enquanto Piñera, infelizmente, não conseguiu se libertar do cinto de segurança.

O governo chileno declarou luto oficial e anunciou que a cerimônia de velório e enterro receberá as honrarias oficiais.

Vida e política

Nascido em Santiago em 1949, em uma família de classe média, Sebastián Piñera se destacou como economista, formado na Universidade Católica do Chile e com mestrado e doutorado em Economia pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos. 

Além de sua carreira política, Piñera teve uma longa trajetória acadêmica e profissional, trabalhando como consultor em diversas organizações internacionais e lecionando em universidades chilenas.

Sebastián Piñera iniciou sua carreira política em 1990, quando foi eleito senador, inicialmente como candidato independente, posteriormente se filiando ao partido Renovação Nacional.

Entretanto, sua ascensão política enfrentou obstáculos em 1993, quando o partido considerou lançá-lo como candidato presidencial, mas acabou desistindo após um escândalo, conhecido como “Piñeragate”, em que Piñera foi flagrado em escutas telefônicas buscando privilégios em um debate.

Apesar desses contratempos, Piñera persistiu na política e em 2005 concorreu à presidência, perdendo no segundo turno para Michelle Bachelet, com 46,5% dos votos. 

Nas eleições seguintes, em 2010, ele voltou a concorrer e foi eleito presidente com 51,61% dos votos, derrotando o ex-presidente Eduardo Frei.

Bilionário

Além de sua carreira política, Piñera é conhecido por seu sucesso empresarial. Avaliado pela Forbes como um bilionário, sua fortuna é estimada em cerca de US$ 2,9 bilhões, tornando-o uma das pessoas mais ricas do Chile.

Nos anos 1970, Piñera fundou sua primeira empresa, a construtora Toltén, que mais tarde foi vendida por US$ 2 milhões. 

Em seguida, em 1978, obteve a representação exclusiva no Chile para os cartões de crédito Visa e Mastercard, o que o levou a criar o Bancard.

Piñera também ocupou cargos de destaque em diversas instituições financeiras, incluindo ser gerente-geral dos bancos Talca e Citicorp-Chile, além de ter sido presidente da Apple no Chile. 

Ele também é acionista de várias empresas, incluindo a antiga Lan Chile, agora Latam após a fusão com a brasileira TAM.