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Bolsonaro enviou a Nigri pelo menos 18 mensagens com ataques ao STF e urnas

Canal no WhatsApp com 81 mil seguidores é apagado por 'engano' por Bolsonaro -Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O ex-presidente Jair Bolsonaro apagou por engano canal no WhatsApp com 81 mil seguidores por 'engano' -Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

De acordo com a Polícia Federal (PF).O ex-presidente Jair Bolsonaro encaminhou ao empresário Meyer Nigri, fundador da construtora Tecnisa, ao longo do ano passado ao menos 18 mensagens contendo ataques ao judiciário, mentiras sobre urnas eletrônicas e sobre vacinas contra a covid-19.

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Os termos foram detalhados em relatório da Polícia Federal revelado pelo site UOL nesta quarta-feira (22).

Uma das mensagens enviadas por Bolsonaro cita “sangue” e “guerra civil” no caso de derrota nas eleições do ano passado. Bolsonaro foi intimado pela PF para prestar depoimento sobre o assunto após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes ter prorrogado a investigação.

Relatórios produzidos pela PF sobre o conteúdo do celular de Meyer Nigri

Ele entrou na mira da PF após uma reportagem do site “Metrópoles”, que naquele mês, mostrou o envio de mensagens de teor golpista a um grupo de empresários.

O celular de Nigri foi alvo de busca e apreensão em agosto do ano passado.

A PF identificou, com o avanço da investigação, que as mensagens falsas disseminadas por Meyer Nigri tinham como origem o então presidente Jair Bolsonaro.

Depois que Bolsonaro lhe enviava as mensagens, Nigri reencaminhava para diversos grupos e contatos de WhatsApp. As conversas ocorreram no período entre fevereiro e agosto de 2022. Por esses elementos, a PF chegou a classificar Bolsonaro como um “difusor de mensagens com conteúdo de notícias não lastreadas ou conhecidamente falsas”.

O terminal, identificado como utilizado pelo presidente da República Jair Bolsonaro, encaminhou diversas mensagens contendo ataques às instituições, especialmente ao Supremo Tribunal Federal, ao sistema eletrônico de votação e às vacinas desenvolvidas para combate à covid-19.

Após receber o conteúdo, Meyer Nigri realizou a disseminação de tais mensagens para diversos grupos e chats privados de WhatsApp. Resumidamente, os fatos apontam para a atuação do presidente da República Jair Bolsonaro como difusor inicial das mensagens.

Relatório da Polícia Federal

Nigri foi um dos primeiros empresários a apoiar Bolsonaro, quando ele decidiu se candidatar para ser presidente do Brasil. No começo de 2018, Nigri realizou jantares para apresentar Bolsonaro a outros empresários e a membros da comunidade judaica em São Paulo.

Nos relatórios produzidos pela investigação, a PF apresentou detalhes sobre duas mensagens encaminhadas por Bolsonaro que abordavam uma possível “guerra civil” contra o resultado das eleições.

Enviadas ano passado, esse estímulo pode ligar o ex-presidente aos atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro, de acordo com as investigações.

Uma das mensagens é de 21 de junho de 2022, com teor claramente golpista. De acordo com a PF, Bolsonaro enviou a Meyer Nigri um vídeo no qual, inicialmente, o ministro Alexandre de Moraes atesta a confiabilidade da urna eletrônica. Em seguida, uma pessoa desconhecida relata um suposto “esquema para fraudar as eleições”.

A PF reproduziu uma imagem do vídeo, que contém a seguinte frase, com letras em caixa alta e caixa baixa: “A ESTRATÉGIA, O PODER, A QUALQUER CUSTO. O POVO TÁ ESPERTO. Compartilhem. PF precisa ver isso. TEREMOS SANGUE!!! GUERRA CIVIL”.

O então presidente da República encerrou o diálogo com a seguinte frase: “Eis o enredo das eleições 2022. Você confia nos 3 min do TSE/STF?”.

A PF identificou que o empresário Meyer Nigri encaminhou o vídeo e a frase para dois grupos de WhatsApp, além de contatos em privado.

Meses depois, no dia 8 de agosto de 2022, Bolsonaro encaminhou a Meyer Nigri um texto que circulava nas redes com o seguinte título: “O STF será o responsável por uma guerra civil no Brasil”. O documento continha uma série de informações falsas sobre o STF e as eleições. O empresário também encaminhou o texto para seus contatos.

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Notícias falsas

De acordo com as investigações, Jair Bolsonaro encaminhou diversas mensagens falsas sobre supostas fraudes nas urnas eletrônicas e falhas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Meyer Nigri, que recebia as mensagens, compartilhava em grupos de WhatsApp e para contatos privados.

Uma das mensagens, enviada por Bolsonaro em 1º de maio de 2022, afirmava que “hackers impediram Bolsonaro de ganhar as eleições de 2018 no 1º turno. Mas não agiram da mesma forma no 2º turno porque o PT não lhes pagou a metade do prometido logo após o 1º turno”.

Além disso, mensagens falsas sobre as vacinas de covid-19 foram encaminhadas para Nigri, pelo menos quatro vezes. Elas afirmavam que as as vacinas não eram seguras e apresentavam efeitos colaterais nunca comprovados.

A PF considerou esse fato relevante porque Bolsonaro já foi alvo de uma outra investigação sobre a divulgação de notícias falsas sobre a vacina. Apesar da PF ter apontado a prática de crime de Bolsonaro no episódio, a Procuradoria-Geral da República solicitou o arquivamento do caso.

Com essas novas mensagens, a PF pediu o compartilhamento de provas para o inquérito que apura o delito de incitação ao crime por parte de Bolsonaro na pandemia da covid e pode reforçar aquela investigação.

OUTRO LADO

Procurado, o advogado Marcelo Bessa, que defende Bolsonaro neste caso, afirmou que não vai se manifestar sobre a investigação.

Em nota, o advogado Alberto Toron, que defende Meyer Nigri, declarou, ao UOL, que ele “jamais foi disseminador de notícias falsas, mas apenas, de forma eventual e particular, encaminhou mensagens de terceiros no aplicativo WhatsApp para fomentar o legítimo debate de ideias. Inclusive, sequer possui contas em redes sociais como Twitter, Facebook, Instagram, nem em qualquer outra plataforma de disseminação em massa. Por fim, com serenidade e respeito, reforça confiar na Justiça e ter plena certeza de que ficará devidamente demonstrado que não praticou crime algum”.

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