“A gente acordou aqui com o barulhinho do passarinho. Lá, não existe isso. Só existe o bombardeio”, descreveu Hasan Rabee sobre o primeiro dia no Brasil. Hasan é uma das 32 pessoas que desembarcaram em Brasília na noite desta segunda-feira (13), vindas da Palestina a bordo de um avião da Força Aérea Brasileira. 

+ Envie esta notícia no seu WhatsApp

+ Envie esta notícia no seu Telegram

A Agência Brasil conversou com os repatriados que, nitidamente aliviados, se preocupam agora com os parentes e amigos que ficaram para trás, sem perspectiva de saída. Estima-se que mais de dez mil pessoas já morreram no conflito até agora. 

Foram mais de 30 dias de espera angustiante, até poderem viajar para o Brasil. O grupo de repatriados que deixou a Faixa de Gaza está agora recebendo atendimento intensivo por parte do governo brasileiro. 

O processo de repatriação envolve ações de assistência social, médica, psicológica e administrativa. A chamada “Operação de acolhimento”, organizada há pelo menos 20 dias, é coordenada pela Secretaria Nacional de Justiça, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, e conta também com a atuação dos ministérios do Desenvolvimento Social e da Saúde.

ALÍVIO E PREOCUPAÇÃO

“A gente não imagina que vai aguentar”, disse Mahmoud Abuhaluoub, um dos palestinos a retornar ao Brasil. “Só ficamos ouvindo bombas, aviões e ataques por cima”, afirmou ao relatar um dos momentos mais tensos, quando tiveram de evacuar o norte de Gaza em direção ao sul, conforme determinou Israel.

Em 2020, após sete anos vivendo em território brasileiro, Mahmoud foi a Gaza para visitar a mãe idosa. Nas últimas semanas, o comerciante conta que o cenário era de prédios desmoronados, bombas em escolas e igrejas, que serviam de abrigos. “Brasileiros sempre dizem que Brasil é terra de paz. Hoje entendi essa palavra”, arrematou.

A jovem Shahed Albanna tinha acabado de completar 19 anos e estava prestes a retornar ao Brasil quando eclodiu a guerra. Ela e a irmã mais nova, moradoras de São Paulo, tinham ido acompanhar a mãe, em visita a parentes.

No tempo em que esteve esperando a liberação para deixar a Palestina, Shahed compartilhava nas redes sociais as angústias e as dificuldades da zona de conflito, como falta de água, comida, energia e internet. “Era difícil passar o tempo. Passei o tempo lendo livros que gosto e brincando com as crianças para não sentirem tanto medo”, lembrou.

Após a passagem por Brasília, Shahed Albanna desembarcou na base aérea de São Paulo na manhã desta quarta-feira (15), muito emocionada. “A minha casa já foi bombardeada, perdi muito pessoal da minha família, perdi muitos amigos… Perdi muita gente”, disse com a voz embargada.

Mesmo aliviada, Shahed diz que sente pelos outros familiares que ainda não deixaram a Faixa de Gaza. “Eu quero que o Brasil nos ajude a retirar o resto dos brasileiros e o resto das nossas famílias que estão vivos, esperando por uma ajuda para sair dali. Tem muita gente”, lamentou.

RELACIONADAS

+ Governo realiza força-tarefa para atender repatriados de Gaza

+ Operação ‘Voltando em Paz’ já repatriou 1.477 brasileiros

+ Lula e autoridades recebem brasileiros resgatados de Gaza