Familiares, amigos e políticos marcaram presença no velório do ex-deputado David Miranda, 37 anos, nesta quarta-feira (10), realizado no hall da Câmara do Rio.

O parlamentar faleceu na madrugada de terça-feira (9), depois de passar nove meses na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Clínica São Vicente, na Gávea, Zona Sul do Rio.

David Miranda teve uma infecção no sistema gastrointestinal e, ao longo da internação, apresentou várias outras infecções, num quadro de septicemia.

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O velório no Palácio Pedro Ernesto, sede da Câmara, foi aberto ao público.

O local da cerimônia foi escolhido para homenagear a atuação de MiIranda enquanto vereador, no período de 2017 a 2018, onde estreou na política.

Muito emocionada, a vereadora Mônica Benício, ex-companheira de Marielle Franco, relembrou momentos pessoais e a atuação política do amigo.

“Foi um grande ativista, sem dúvida nenhuma, na pauta de direitos humanos e em especial na pauta LGBT, dando a sua vida como um exemplo de luta”, ressaltou.

O jornalista americano Glenn Greenwald, que se mudou para o Brasil depois de conhecer o companheiro em 2005, fez um breve relato sobre a história do casal.

Ele também revelou que, durante o longo período de internação, foi informado pelos médicos que o marido não resistiria ao menos três vezes e em todas houve uma recuperação do parlamentar.

“Eu sinceramente não sei como vou ficar o resto da minha vida sem o David”, disse Glenn, bastante abalado.

Apesar das divergências políticas, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, compareceu à cerimônia e enfatizou a trajetória de Miranda.

“Uma história de vida, que veio da favela, chegou ao parlamento e enfrentou poderesos internacionais. O legado dele precisa ser levado adiante”.

David Miranda, que completaria 38 anos nesta quarta (10) e era casado com Glenn Greenwald, há quase 19 anos.

Ele também deixa três filhos: João Vitor, Jonathas e Marcelo.

O sepultamento será realizado nesta quinta-feira (11), no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, Zona Oeste do Rio.

O horário não foi divulgado pela família.

Jornalista Glenn Greenwald, marido de David, e os filhos no velório realizado na Câmara do Rio – Foto: Ascom/CMRJ

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Glenn e David

O casal ganhou visibilidade internacional pelo trabalho de jornalismo investigativo que denunciou o sistema de espionagem global praticado pelo governo dos Estados Unidos.

A série de entrevistas documentou as revelações do ex-analista de sistemas da CIA, Edward Snowden, que fugiu para se asilar na Rússia, em 2013.

Na época do caso, David Miranda chegou a ser detido por oficiais da Scotland Yard no Aeroporto de Heathrow, em Londres.

Ele tentava embarcar de volta para o Rio quando foi retido por cerca de nove horas e submetido a um longo interrogatório, por seis agentes, após as matérias publicadas por Glenn.

A denúncia conquistou o Prêmio Pulitzer, maior hornaria concedida ao jornalismo.

Greenwald, que tem sido um crítico contundente ao PL das Fakes News, também esteve à frente da ‘Vaza Jato’.

O trabalho jornalístico investigativo produzido pelo site The Intercept revelou conversas comprometedoras entre o então juiz Sérgio Moro e o integrantes do Ministério Público que atuavam na operação Lava Jato.

Glenn e David com os três filhos: João Vitor, Jonathas e Marcelo – Foto: Reprodução/Twitter @ggreenwald

Trajetória de David Miranda

Ativista dos direitos humanos e torcedor do Flamengo, David nasceu na favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, e ficou órfão aos cinco anos.

“Uma vizinha linda, Dona Eliane, acolheu David e, apesar da pobreza e de já ter 4 filhos, se tornou a Mãe de David e lhe deu uma chance de vida”, escreveu seu marido no Twitter.

Também era conhecido pelo trabalho de resgate a animais de rua e chegou a criar com o marido cerca de 30 cachorros.

Veja o vídeo sobre o abrigo de animais resgatados por David e Glenn:

Carreira na política

David Miranda foi eleito vereador da Cidade do Rio de Janeiro pelo Psol-RJ em 2016, no mesmo pleito que Marielle Franco, de quem era amigo pessoal.

Na eleição de 2020, concorreu a deputado federal pelo partido e perdeu.

Contudo, assumiu a vaga deixada por Jean Wyllys (Psol-RJ), que desistiu do cargo por conta de ameaças.

Em março de 2022, quando havia janela partidária para a troca de legendas, David migrou para o PDT, para apoiar a candidatura de Ciro Gomes.

No entanto, cerca de cinco meses após a mudança, no dia 6 de agosto, ele foi internado com fortes dores, quando foi constatada a infecção.

A candidatura à reeleição para deputado federal chegou a ser confirmada, mas familiares decidiram recuar devido ao quadro de saúde do parlamentar.

David Miranda exercendo o mandato de deputado federal – Foto: Reprodução/Twitter @ggreenwald