O maranhense Rafael Leitão possui uma das mais vitoriosas histórias do xadrez no Brasil. Foi o mais jovem enxadrista brasileiro a obter o título de Grande Mestre (a mais alta qualificação segundo a Federação Internacional de Xadrez, a FIDE). Rafael foi sete vezes campeão brasileiro absoluto e medalha de prata individual na Olímpiada de Xadrez de Turim, além de conquistar dois títulos mundiais de categoria: sub-12 em Varsóvia, 1991, e sub-18, em Menorca, 1996. Ao Norte Entrevista, ele fala das novidades no esporte.
O interesse inicial pelo xadrez
“Meu pai jogava xadrez, me ensinou as regras e os movimentos iniciais quando eu tinha seis anos, além de possuir alguns livros sobre o jogo. E era o período do match do século, entre Bobby Fischer e Spassky”.
O treinamento
“Depois do início, ainda criança, com meu pai, minha carreira se desenvolveu e comecei a jogar os torneios. Daí treinei com o Mestre Internacional Jefferson Pelikian, e depois vim para São Paulo, onde treinei com o Grande Mestre Gilberto Milos Jr.”
O avanço da tecnologia e seu impacto sobre o xadrez
“A garotada tem muito isso de eleger jogadores atuais, como o Magnus Carlsen, como o melhor de todos os tempos. Mas o Capablanca era considerado invencível nos anos 20. Essa comparação não faz muito sentido. Hoje há programas fortíssimos que analisam xadrez, e bancos de dados com praticamente todas as partidas já disputadas. Além de clubes onde é possível jogar a qualquer momento, online.”
Experimentos científicos, xadrez e atividade cerebral
“Haverá um congresso de medicina no Rio em junho, para o qual virão psiquiatras e neurocirurgiões. E me convidaram para me submeter a testes de ressonância magnética. A principal ideia é ver a diferença em atividade cerebral de uma pessoa treinada numa atividade para outra que é amadora. No dia do evento vão me pôr um capacete e eu vou jogar contra quem quiser me desafiar lá, e eles vão observar essas diferenças.”
O xadrez no Brasil não tem tradição
“Eu me desinteressei um pouco do xadrez competitivo justamente pelo avanço da tecnologia, que obriga os jogadores profissionais a despenderem muito tempo com computadores. Além das péssimas condições oferecidas pelos torneios de xadrez, num país que não tem tradição na modalidade”.
Treinador, comentarista online, streamer
“Hoje eu mantenho uma academia de xadrez online, onde sou treinador. E comento partidas online. A internet oferece essa ampla gama profissional para os enxadristas, e me divirto fazendo isso”.
O indiano Dommaraju Gukesh, candidato ao título mundial
“A Índia foi o país com o maior desenvolvimento no xadrez nos últimos tempos, com muitos jogadores fortíssimos. Vão começar a ganhar tudo, como a antiga União Soviética, ganhar olimpíadas etc. E o Gukesh será campeão mundial”.
Livros, filmes, músicas: a lista de Rafael Leitão
“Gosto muito dos romances 2666, do Roberto Bolaño, e de O Náufrago, de Thomas Bernhard. Um filme da vida é O Grande Lebowsky. Em música tenho um gosto muito variado, que vai de Villa-Lobos a Led Zeppelin”.