A prisão do general Walter Braga Netto, neste sábado (14), determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e assinada pelo ministro Alexandre de Moraes, baseia-se na acusação de que o militar teria tentado acessar informações sigilosas da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, junto à Polícia Federal (PF).

A ação é considerada, pela PF, uma possível tentativa de obstrução de Justiça. Segundo as investigações, a tentativa de Braga Netto de obter detalhes da delação ocorreu em setembro de 2023, pouco após a liberação de Mauro Cid.

Durante audiência realizada no último dia 21 de novembro, Cid revelou que o general manteve contato com o pai do delator, o também general Mauro César Lourena Cid, em busca de informações.

Documentos encontrados reforçam as suspeitas

Durante a operação “Tempus Veritatis”, realizada em 8 de fevereiro de 2024, a PF encontrou documentos comprometedores na sede do Partido Liberal (PL), em Brasília.

Esses papéis, localizados na mesa do coronel Flávio Botelho Peregrino, assessor de Braga Netto, continham orientações de perguntas e respostas relacionadas à colaboração premiada de Mauro Cid.

Para o ministro Alexandre de Moraes, esses indícios mostram que os contatos de Braga Netto buscavam manipular o andamento das investigações e manter informados outros integrantes do suposto esquema criminoso.

Tentativa de controle sobre delação

Mauro Cid relatou à PF que, após sua soltura, houve esforços de Braga Netto e outros intermediários para descobrir o conteúdo de suas declarações.

Em depoimento, o tenente-coronel destacou: “Basicamente isso aconteceu logo depois da minha soltura, quando eu fiz a colaboração naquele período, onde não só ele como outros intermediários tentaram saber o que eu tinha falado.”

Dinheiro em sacola de vinho e financiamento clandestino

Outro ponto levantado por Cid foi o envolvimento de Braga Netto no financiamento de ações de forças especiais.

Ele afirmou que o general entregou dinheiro em espécie, em uma sacola de vinho, ao então major Rafael de Oliveira. Os recursos teriam sido usados para cobrir despesas de uma operação ainda não detalhada.

A Polícia Federal confirmou o uso do dinheiro para a compra de celulares e chips em Brasília, com pagamentos realizados em espécie, o que reforça as suspeitas de financiamento clandestino.

Contexto da investigação

Braga Netto é investigado no inquérito que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado com o objetivo de impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

As revelações recentes trazem à tona um esquema que, segundo os investigadores, envolvia altas figuras do governo anterior e buscava interferir diretamente na Justiça.

*Com informações da Agência Brasil